sábado, 26 de maio de 2012

Noé e o Dilúvio: Breve comentário Histórico-Teológico

por HELTON DE ASSIS

Não existem provas que comprovem que a narrativa de Noé e o diluvio é mitológica. Infelizmente pouquissimos conhecem a verdade dos fatos acerca da historicidade desta narrativa. Aqui pretendo fazer uma breve abordagem histórica sobre este episódio bíblico. 


A narrativa sobre Noé começa com a afirmação de que ele era um “homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos”. Noé era correto e sincero, embora não livre do pecado. Podemos dizer que Noé, apesar de ser pecador, não havia se depravado tanto como os demais de sua época. A narrativa também diz que Noé “andava com Deus”, o que implica dizer, que, assim como Enoque, Noé possuía uma conduta marcada pela comunhão íntima com o Criador.

Algumas pessoas tem dificuldade de imaginar Deus em um estado de ira. Porém a narrativa do dilúvio mostra claramente que a paciência de Deus tem limite. Nessa história, vemos que, Deus pretendia fazer uma “reciclagem” com a humanidade. Os homens haviam passado do limite e iriam agora colher o que plantaram.

Deus mandou Noé construir uma barca que fosse resistente a catástrofe que estava por vir. Assim ele e sua família teriam como se refugiar em meio a destruição.

Incrivelmente a narrativa mostra que o próprio Deus foi o projetista da Arca. As dimensões deste navio eram, em números redondos, 135m de cumprimento, 23m de largura e 20m de altura. A partir dessas medidas podemos notar alguns fatos curiosos:
·         Um navio com tais dimensões teria um deslocamento de 20.000 toneladas e uma tonelagem bruta de 14.000 toneladas.
·         Sua capacidade de carga equivalia à de 522 vagões de trem (cada um dos quais com capacidade para 240 ovelhas), o que implica dizer que era um espaço onde poderia ser colocadas mais de 125.000 ovelhas.
·         Cientistas sérios, como o Profº Adauto Lorenço, afirmam que a capacidade da arca de Noé, era sufisciente para comportar todas as espécies de animais da terra. É importante observar que muitos animais não precisaram entrar na Arca, como foi no caso dos peixes e de muitas espécies de vermes, entre outros. Deve-se ainda lembrar que a maior parte dos animais existentes não possuem grande tamanho, e que a Arca estaria levando animais jovens, ou ainda, filhotes. Filhotes são menores e consomem menos alimento, assim como também, são mais fáceis de domesticar. Outro aspecto importante de lembrar: a hibernação de muitas espécies foi algo que ajudou muito.
·         Nem todos os compartimentos precisaram ser ocupados por animais. Os que sobraram serviam para armazenamento de mantimentos.
·         O Espírito Santo interviu de várias maneiras para ajudar Noé. Seja agindo no deslocamento dos animais, seja no controle deles.


A arca de Noé simboliza a segurança ante a destruição, ou a salvação em vista ao julgamento. Também podemos enxergar a Arca de Noé como uma alusão a Cristo, que é aquele que nos abriga.


Tratando-se do dilúvio em si, até hoje é impossível determinar a sua data exata. As estimativas o colocam entre 13.000 e 3000 a.C..

A extensão do dilúvio tem sido objeto de discussão.  Por um lado, muitos defendem que o dilúvio foi a nível mundial, por outro lado, existem muitos que acreditam que o dilúvio foi limitado a determinada região do globo. Quanto a minha opinião, creio que o dilúvio dificilmente não ocorreu em escala global, pois, entre muitas evidências podemos destacar que:
·         Os historiadores e antropólogos afirmam que em quase todas as cultura, ao redor de todo o planeta, podemos notar a presença de lendas e tradições que guardam histórias de dilúvios. Narrativas diluvianas podem ser encontradas na cultura oral dos mais diversos povos, como Assírios, Babilônicos, Persas e Gregos. Ainda hoje etnias bastante isoladas  conservam esta tradição, como é o caso de muitos grupos de aborígenes que vivem na polinésia, ou ainda, grupos de índios da América do Norte. Entre todas as versões extra-bíblicas, a mais conhecida é a famosa Épopéia de Gilgamesh, escrita a mais de quatro mil anos atrás.
·         Apesar de muitos cientistas não acreditarem em um dilúvio tão grande, ao ponto de cobrir os montes mais altos, o fato é que muitos pesquisadores sérios conseguem enxergar marcas deste acontecimento em todo o globo.
·         Contrariamente a idéia de que não havia água sufisciente para ocorrer um evento como esse, afirmo que, precisamos lembrar do fato que as condições climáticas da terra pré-diluvianas eram muito diferentes das de hoje. Pesquisadores tem concluído que a atmosfera terrestre era muito mais úmida, o que implica dizer que havia mais água caindo do céu do que imaginamos. Outro fator importante: As águas da camada meso-oceânica, juntamente com todas as reservas dos aqüíferos, foram utilizadas por Deus.
·         A linguagem dos capítulos sexto a nono de gênesis refere-se a um dilúvio de dimensões globais.

É baste interessante notarmos que um grande numero de pessoas nas últimas décadas tem afirmado que avistaram resquícios da Arca de Noé no Monte Ararat, localizado na divisa entre a Turquia e a Armênia. Recemente a imprensa internacional divulgou que um grupo de arqueólogos chineses teria realizado uma descoberta no alto deste monte e que a possibilidade de ser a Arca de Noé era de 99.9 %. Veja a seguinte reportagem publicada pelo site Terra, em 28 de Abril de 2010:


Fotos de satélites têm mostrado que no geladíssimo e inóspito Ararat existe uma anomalia geológica, que tem levado muitos pesquisadores a afirmarem que aquela seria a Arca sob a neve.

Ao contrário das idéias dos céticos contra a historicidade da narrativa bíblica do dilúvio, podemos perceber que as evidências que apontam para a realidade e literalidade desta história são muitas.


Anormalia geológica no Monte Ararat (Imagem de satélite)

Ao fim da narrativa, após as águas do dilúvio baixarem e os remanescentes novamente pisarem na terra firme, é realizado um culto ao Senhor. Nessa ocasião  Deus promete a Noé e sua família que nunca mais destruiria a terra com um dilúvio. 




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·        Alexander, Pat; Alexander, David (Organizadores). Manual Bíblico SBB. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.
·        Dockery, David (Editor Geral). Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Edições Vida Nova, 2001.
·        Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª Edição. São Paulo: Cultura Cristã; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
·        Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
·        Ryre, Charlles. Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 2009
·        Júnior, Guilherme Stein. A Torre de Babel e seus mistérios. Brasilía: Sociedade Criacionista Brasileira, 1998.
·        Lorenço, Adauto J.B. Como tudo começou. São José dos Campos: Fiel, 2007.
·        Champlin, Norman. O Antigo Testamento Interpretado. São Paulo: Hagnos, 2001.







domingo, 6 de maio de 2012

ENTREVISTA DE MARINA SILVA A NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL


O ideal de vida de Marina

As vésperas da Rio +20, a ex-senadora fala de como pretende promover uma mudança de paradigma em favor de um novo modelo de desenvolvimento econômico

por Afonso Capelas Jr.Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL
Cristiano Mariz
Marina Silva, ex-senadora e candidata a presidência
“A sustentabilidade deve ser entendida como um ideal de vida”, diz Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente
“Ainda vou decidir se me candidato a algum cargo político neste ano. Mas minha luta ecológica continua”, diz a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva logo ao fim da entrevista que concedeu a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL em uma livraria de Brasília. Antes ela havia participado, durante duas horas, das gravações de um documentário sobre a nova classe média brasileira. Marina está habituada a trabalhar muito; quando adolescente, sua jornada começava de madrugada em uma comunidade do seringal Bagaço, no Acre. Hoje é ainda mais atarefada. Incansável, vive uma maratona de viagens, palestras e entrevistas mundo afora – à noite, ainda sobra fôlego para ler e escrever na cama. A seguir, Marina nos conta como pretende promover uma mudança de paradigma em favor de um novo modelo de desenvolvimento econômico. “A sustentabilidade deve ser entendida como um ideal de vida”, diz ela.
O que a senhora espera da Rio+20?
Aguardo uma avaliação séria do que foi feito nos últimos 20 anos. É óbvio que chegaremos à conclusão de que foi menos que o necessário. Meu desejo é de que venham novos compromissos para que o encontro não seja uma pá de cal na memória da Rio 92. A Rio+20 é um processo dinâmico que envolve centenas de países. Cada um precisa fazer seu dever de casa. No Brasil, está acontecendo um grande retrocesso com a mudança da legislação ambiental para retomada do aumento de áreas de cultivo. É uma contradição. A prova de que o país não precisa disso é que estamos há quase oito anos com crescimento econômico, diminuição da pobreza e do desmatamento. De um modo geral, é preciso não subtrair a questão ambiental desse encontro mundial.
A senhora concorda com o alerta de um grupo de cientistas de que o encontro pode ser desvirtuado por outros temas, deixando a sustentabilidade e as mudanças climáticas em segundo plano?
Sim. Estão fazendo uma assepsia do tema ambiental, da perda de biodiversidade, do aumento da desertificação e das mudanças no clima para discutir apenas desenvolvimento. Na conferência climática de Durban, chegamos à conclusão de que o planeta está na UTI, mas a intervenção médica só vai acontecer daqui a dez anos. Iremos para a Rio+20 sabendo que estamos vivendo uma crise civilizatória caracterizada por múltiplas crises, e já estão querendo praticar a política do avestruz: fazer vista grossa aos problemas ambientais para falar apenas de desenvolvimento e pobreza, como se os dois temas não tivessem como pano de fundo a crise ambiental global. Embora as outras questões sejam relevantes, elas não têm como ser resolvidas pelos mesmos paradigmas dos séculos 19 e 20. É fundamental o protagonismo do Brasil no encontro, descolando-se das posições atrasadas do G77 (grupo de países em desenvolvimento) e abrindo maior liderança dentro do G20 (nações desenvolvidas e emergentes), porque esse grupo representa 80% do PIB da população mundial e das emissões de gases de efeito estufa. Se o G20 se movimentar para a redução das emissões e a mudança do modelo de desenvolvimento, será possível fazer a diferença. Inclusive, alavancar recursos para que as nações pobres se desenvolvam sem repetir o exemplo predatório dos países ricos.
Quais contribuições a senhora levará ao encontro no Rio?
Estarei lá como um dos “advogados do milênio”. O Millennium Development Goals (MDG) Advocacy Group é uma organização que trabalha com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para fazer articulação política em benefício dos países pobres e vulneráveis. Para a Rio+20, sugeri uma autoconvocação dos líderes morais do planeta, aqueles que, nos mais diferentes espaços da vida econômica, social, científica e política, estão envolvidos com a causa, não sob a perspectiva imediatista, que nos torna reféns dos interesses das corporações ou da conjuntura política. A ideia é de que, antes da chegada dos chefes de Estado ao encontro, os líderes morais apresentem os pontos necessários para enfrentar o problema. Assim, criamos um espaço de mobilização independente, em que a sociedade possa ouvir da boca dos cientistas qual o tamanho do desafio que temos pela frente.
O que a senhora acha que mudou no Brasil quanto às questões socioambientais desde a Rio 92? Avançamos nesse quesito?
Evoluiu a consciência das pessoas. Basta considerar que mais de 20 anos atrás Chico Mendes foi assassinado e apenas meia dúzia de pessoas estavam envolvidas com a causa da Amazônia. Hoje há toda a polêmica em torno do Código Florestal e pesquisas de opinião mostram que 80% dos brasileiros preferem pagar mais pelos alimentos para proteger a floresta. Creio que são os maiores indicadores de que a consciência é outra. Isso ainda não se traduz em mudança de atitude, mas há muitos passos nessa direção. Nas duas décadas passadas, evoluiu também a base legal para a proteção de nossos ativos ambientais. Temos agora uma lei de crimes contra a natureza, o mapa dos biomas brasileiros e das zonas prioritárias para conservação da biodiversidade, uma lei nacional das águas e um sistema nacional de unidades de conservação, com 70 milhões de hectares de áreas preservadas. Orgulho-me de saber que, desse total, 24 milhões de hectares foram criados durante a minha gestão como ministra do Meio Ambiente, de 2003 a 2008. Se não houvesse essa evolução de consciência, sequer teria sido possível implementar o Plano de Combate ao Desmatamento, que levou à redução de 80% da derrubada da floresta graças à inibição de 1,5 mil propriedades ilegais e à aplicação de 4 bilhões de reais em multas.
Tal consciência despontou nos políticos ou nos cidadãos?
Sobretudo nos cidadãos. Apesar disso existe um retrocesso, em que a maioria dos políticos quer alterar o Código Florestal e a legislação de criação de terras indígenas no Brasil. Também removeram as competências do Ibama para fiscalizar o desmatamento e no primeiro ano da presidente Dilma nenhum hectare de unidade de conservação sequer foi criado. Vejo, então, um paradoxo: enquanto aumenta a consciência ambiental das pessoas, notamos um recuo da representação política, pautada por grupos – ainda que minoritários – mais conservadores, na questão socioambiental. É um fenômeno que acontece no mundo inteiro. Há um lobby pesado contra qualquer medida nos Estados Unidos em relação à Convenção do Clima. Mas em boa parte da sociedade mundial cresceu a consciência socioambiental.

O OEDNH apoia a Visão Mundial



II SEMINÁRIO DE ESTUDOS MEDIEVAIS DA PARAÍBA

O II Seminário de Estudos Medievais da Paraíba será realizado de 11 a 13 de junho, na UFPB. O Seminário terá como tema: “Sábias, Guerreiras e Místicas” e fará uma homenagem aos 600 anos de Joana D´Arc. As inscrições estão abertas até dia 15 de maio.



Mais informações estão no site do evento:
http://www.cchla.ufpb.br/sempb/II_seminario_Medieval-PB/Inicio.html
ou pelo e-mail: giemufpb@gmail.com


Confissão de Pregador


por Bruno Pontes Costa (Teólogo, Pastor e Coordenador acadêmico da Faculdade Evangélica do Nordeste)

Se for me convidar para pregar, saiba disso:

“Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois pesa sobre mim essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o Evangelho” (1Co 9,16)
Sou "um pregador" do Evangelho de Jesus Cristo, mas, prefiro ser chamado de Pastor mesmo!
De coisas das quais venho fazendo na vida, esta com certeza é a que me dá maior prazer e orgulho. Hoje, tento pregar esse Evangelho levando-o até o fim de minha vida. Não tenho certeza se terminarei meus dias vivendo do Evangelho. Mas de uma coisa tenho certeza, quero terminá-los pregando-o. Já mudei de idéia, na fé, incontáveis vezes. Sempre quis ter a mente aberta às novas mudanças. Mas nunca mudei minha autopercepção como um pregador. Já preguei em todo tipo de congregação: nas pentecostais e nas tradicionais; nas ricas e nas pobres; na cidade e na zona rural; nas capitais e no interior; em templos e em casas; em praças e em cima de trios elétricos; até em prisões e funerais; em todo tipo de lugar e para todo tipo de público.
Contudo, se nossa percepção da fé, do mundo, das pessoas, da vida, de nós mesmos, vai mudando – amadurecendo, penso eu que: o conteúdo de nossa pregação também vai. Já disse muita coisa nos púlpitos por onde passei que não diria hoje. Já privilegiei e abordei temas que não privilegiaria agora. Já interpretei passagens da Bíblia de uma forma que não repetiria atualmente.Quando eu era menino, pensava como menino, sentia como menino e "pregava" como menino. Não posso me arrepender de nada do que disse, porque quando reconhecemos que o que dissemos foi produto de uma época pregressa de menos amadurecimento humano ou cristão, então o que dissemos não pode ser visto como equívoco. Talvez mais à frente eu questione essas palavras que agora escrevo, considerando-as como fruto "deste" tempo em que vivo e da minha compreensão atual do que é a fé.
Por isso, reescrevo esse texto para possíveis pessoas que, porventura, pensem em me convidar hoje como pregador do Evangelho. É bem verdade que nunca deveríamos convidar um pregador baseado em nossas próprias expectativas. Mas a idéia é a de evitar constrangimentos e desapontamentos desnecessários.


Se você for me convidar como pregador hoje, saiba, em primeiro lugar, que gosto de pregar mais sobre a fé "de" Jesus, do que sobre a fé "em" Jesus. Talvez você não veja tanta diferença entre as simples preposições "de em". Saiba que para mim, essas preposições fazem toda a diferença, e que, em minha opinião, a fé de Jesus é muito diferente da forma como a maioria das pessoas crê em Jesus. A fé de Jesus é fé no Pai (Abbapater) que é Nosso, ao tempo em que a fé em Jesus quase sempre é a fé em um Pai que é Meu (extremamente egoísta), de Minha Igreja (visão medíocre de Reino). A fé de Jesus é fé também nas pessoas, algumas delas consideradas impuras, hereges e distantes de Deus, ao tempo em que a fé em Jesus quase nunca é fé nas pessoas, além de ser motivo para demonização, perseguição e exclusão de pessoas que pensam e vivem de modo diferente do nosso. A fé de Jesus é uma força que leva ao serviço, ao posicionamento explícito do lado dos oprimidos, e aos riscos do confronto com os opressores desse mundo. Já a fé em Jesus quase sempre leva ao quietismo, à salvação da alma individual, e atualmente ao consumismo e à exaltação dos valores preconizados pelo Capitalismo, cada vez mais distante do Evangelho genuíno.


Se você for me convidar como pregador hoje, saiba, em segundo lugar, que gosto mais de pregar sobre problemas humanos, sobre dilemas coletivos como a pobreza, o racismo, a homofobia, a falta de segurança, a corrupção política e Cristã, a inércia da sociedade e da pobreza espiritual, a exploração econômica e outros temas que dizem respeito à vida concreta das pessoas. Saiba que não privilegio hoje esses temas por mera sofisticação acadêmica ou vaidade intelectual. Privilegio atualmente esses temas porque os vejo, de alto a baixo, fervilharem na própria Bíblia. Saiba que em minha opinião, esse trabalho que os chamados “movimentos sociais” realizam hoje, é o mesmo trabalho que as igrejas declinaram de fazer ontem. Saiba que ao enfatizar essas coisas, me movo com a consciência de quem está querendo resgatar uma dimensão fundamental da fé cristã, testemunhada na Bíblia pelos profetas, por Jesus de Nazaré e pelas comunidades cristãs primitivas.


Portanto, se você for me convidar como pregador hoje, fique certo de que não vou me fundamentar em Marx, Engels ou muito menos "Che Guevara". Talvez eu possa vez por outra me aproximar deles no que convergirem com a minha percepção do Evangelho. Mas é de Isaías, Amós, Oséias e Jesus de Nazaré, que meu discurso partirá certamente.   
Se você for me convidar como pregador hoje, saiba, em terceiro lugar, que gosto de usar toda a amplitude do termo "salvação" e principalmente "Libertação"
- Gosto especialmente da forma como no Antigo Testamento se falava em salvação, isto é, como um evento de dimensões históricas que trazia de volta a paz, a harmonia e a alegria do povo em meio a situações de crise e de perigos para a existência das comunidades. 
- Gosto especialmente da forma com que Jesus se dirigia às pessoas, depois de algum milagre, dizendo-lhes “a tua fé te salvou”, sem alusão a nenhum compromisso institucional. 
- Gosto dessa salvação como o fim de um sofrimento físico, espiritual, psicológico e comunitário, como aquela que recebeu a mulher do fluxo de sangue. 
- Gosto dessa salvação que é o resgate das potencialidades da vida, da possibilidade de voltar a viver como “gente comum”, no meio dos outros, sem olhares julgadores, com a autoestima elevada. Creio na salvação como “vida eterna” aqui e no porvir. Mas se você for me convidar como pregador hoje, saiba que não uso, já há algum tempo, a ideia do Inferno como "ameaça" teológica e como meio de coação para a salvação eterna e para o ingresso na igreja. Prefiro sempre pregar que nós somos "Livres" em Cristo Jesus.
Se você for me convidar como pregador, saiba, em quarto lugar, que gosto de ler a Bíblia de forma muito livre, confiando no auxílio do Espírito Santo, com meu espírito aberto à voz de Deus, usando ferramentas científicas que me ajudam na tarefa hermenêutica, e tendo a Jesus como “princípio interpretativo” não com ideias místicas ou confusas das Sagradas Escrituras. Saiba que em lugar de ver na Bíblia um escrito psicografado por Deus através de certas pessoas, vejo nela um testemunho fantástico da caminhada do povo de Israel, produzido à luz de sua fé em Deus e das promessas messiânicas de libertação no seu sentido mais amplo da existência humana. 


Saiba que vejo na Bíblia um livro extraordinário, mas que pode ser tanto “palavra de Deus” quando lido e interpretado em função da vida, quanto “palavra do Diabo Humano” quando lido e interpretado para fundamentar violências simbólicas, exclusões e perseguições de toda sorte. Saiba que considero algumas porções do texto Bíblico como frutos da História, sem vigência atual, totalmente ultrapassadas, vencidas pela compreensão trazida por Jesus de Nazaré, que considero como Ponto de Plenitude da Verdade. Fique sabendo que Jesus é meu “princípio interpretativo”, e que considero “palavra de Deus”, na Bíblia, tudo aquilo que converge com o ensino de Jesus sobre as coisas da fé. Saiba que para mim, a Bíblia oferece as melhores dicas para o tipo de convivência humana sonhada por todos os povos – sendo assim Palavra de Deus.
Por último, se você for me convidar como pregador hoje, saiba que gosto de pregar sobre um Deus incompreensível e incognoscível para qualquer fé e qualquer teologia, que ama incondicionalmente tudo aquilo que criou. Saiba que me esforço para permanecer fiel ao maior legado que o Protestantismo Antigo nos trouxe, e que os novos protestantismos esqueceram: a fé na Graça de Deus. Saiba que creio na Graça como um presente dado ao universo inteiro. Como dom de toda existência, e como oceano no qual está mergulhado o próprio Ser. Fique sabendo que não creio na Igreja como “mediadora exclusiva dessa Graça”, mas creio nela como lugar potencial de acolhimento da Graça, e como comunidade onde a fraternidade e a esperança podem ser muito bem orientadas. Saiba que considero a dogma Extra Ekklesia nula sallus – fora da Igreja não há salvação – uma heresia, uma declaração de absoluta arrogância, e uma tolice total. Saiba que creio em um Deus que ri de certas convicções dogmáticas, e que, por conta dessa Graça, guarda grandes surpresas para aqueles que vivem seguros em si mesmos acerca de sua condição espiritual no mundo. Afinal de contas, como poderemos ser salvos em uma igreja se não sintimo-nos livres, onde não se sente a presença de Deus, onde o pastor é oportunista e os irmãos são acomodados com os erros e o pecado. Por isso continuo acreditando na Bíblia, sabendo que nós somos a Igreja quando Cristo está em nós!
É assim que prego o Evangelho hoje. 


Prego como forma de gratidão pelo que o próprio Evangelho fez em mim. Como disse Paulo de Tarso, prego como forma de “constrangimento existencial”, porque “ai de mim se não pregar o Evangelho” (1Co 9,16). Talvez depois destas confissões me sobre pouco espaço para pregar nas igrejas. O que pouca gente sabe é que os cristãos, historicamente, começaram a se confinar em templos religiosos já na fase de “constantinização” de sua fé. O próprio Jesus tinha nas sinagogas e no Templo apenas mais dois espaços, entre outros tantos, para sua pregação. Na maior parte do tempo sua pregação se dava mesmo "era nas ruas", nas casas, nos espaços públicos, e em qualquer outro ambiente onde pessoas "quisessem" Lhe ouvir. Eu também trabalho para fazer do mundo o meu púlpito, onde pregar possa ser mais do que falar,  sobretudo viver. Parafraseando John Wesley: "Minha Paróquia é o mundo!" e sem verdade não existe Libertação.


Pr Bruno Pontes 
...Tentando ser um teólogo pela Libertação.

Cartaz OEDNH ajude a divulgar esse blog