quarta-feira, 16 de março de 2011

Um Rei Poderoso, Uma Moça Humilde

IMAGINE QUE HOUVESSE UM REI que amasse uma moça humilde", principia uma história de Kierkegaard.
Não havia rei como ele. Todos os estadistas tremiam diante de seu poder. Ninguém ousava pronunciar uma pa­lavra contra ele, pois ele possuía a força para esmagar to­dos os oponentes. E, ainda assim, esse poderoso rei derre­teu-se de amores por uma moça humilde.
Como podia declarar seu amor por ela? Por ironia, sua própria realeza deixava-o de mãos amarradas. Caso trouxesse-a ao palácio e coroasse-lhe a cabeça com jóias e vestisse-lhe o corpo com vestes reais, certamente ela não resistiria — ninguém ousava resistir-lhe. Mas ela o amaria?
É claro que diria que o amava, mas amá-lo-ia de ver­dade? Ou iria viver com ele temerosa, secretamente se las­timando pela vida que havia deixado para trás? Seria feliz ao seu lado? Como ele poderia saber?
Caso ele fosse na carruagem real até a cabana dela na floresta, com uma escolta armada balançando imponen­tes estandartes, isso também a atordoaria. Ele não deseja­va uma súdita servil. Desejava uma amante, uma igual. Desejava que ela esquecesse que ele era rei e ela uma moça humilde e que deixasse que o amor partilhado vences­se o abismo existente entre eles.

"Pois é somente no amor que o desigual pode ser feito igual", concluiu Kierkegaard. O rei, convencido de que não poderia fazer a moça melhorar sua condição social sem repri­mir sua liberdade, decidiu rebaixar-se. Vestiu-se de pedinte e aproximou-se da cabana incógnito, com uma capa surrada, frou­xa, esvoaçando ao seu redor. Não era um mero disfarce, mas uma nova identidade que assumiu. Renunciou ao trono para ganhar a mão dela.
O que Kierkegaard expressou em forma de parábola, o apóstolo Paulo expressou nestas palavras acerca de Jesus, o Cristo:

Cristo Jesus,... subsistindo em forma de Deus,
não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
antes a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens;
e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou,
tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz.

Por Philip Yancey - Jornalista e Escritor Americano

extraido do livro Decepcionado com Deus, editora Mundo Cristão


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