domingo, 26 de junho de 2011

Ultimato entrevista o historiador Cristão Alderi Souza de Matos

A igreja é reformada, mas está sempre carecendo de reforma …
A reforma tem a ver com o resgate das convicções básicas da fé cristã, e o reavivamento, com o aprofundamento da vida cristã. Sem avivamento, a reforma pode tornar-se fria, formal e árida, reduzindo-se a uma mera preocupação com a ortodoxia. Sem reforma, o avivamento pode descambar para o emocionalismo superficial e efêmero. Os dois fenômenos nem sempre caminham juntos, mas deveriam caminhar. Esta é a análise do historiador Alderi Souza de Matos, 52 anos, do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Com graduação em direito e filosofia, mestrado em teologia e doutorado em história, Alderi considera-se seguidor de Jesus Cristo desde pequeno. A vocação ministerial despontou em 1969, quando ele participou de um retiro no Acampamento Palavra da Vida. No ano seguinte, aos 17 anos, já era aluno do Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, SP.
Ultimato – Qual teria sido o primeiro movimento na história da igreja cristã que pode receber o nome de reforma?
Alderi – Em um certo sentido, o movimento monástico. É interessante que, já no segundo século, os documentos cristãos atestam a ocorrência de um declínio no nível espiritual e ético da igreja. Por isso, os chamados “pais apostólicos” (textos da primeira metade daquele século) revelam uma preocupação quase obsessiva com a moralidade como o aspecto mais importante e decisivo da vida cristã. O cristianismo passou a ser entendido prioritariamente em termos de obediência a preceitos, em contraste com a ênfase na graça encontrada nos escritos do Novo Testamento. No terceiro século, muitos cristãos concluíram que não era possível viver a vida normal em sociedade e serem fiéis discípulos de Cristo. Inspirados pelas palavras do Mestre ao jovem rico (“Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” – Mt 19.21), eles começam a retirar-se das cidades a fim de, na solidão e no isolamento, poderem se dedicar mais plenamente a Deus. Os dois mais famosos dentre esses “pais do deserto” foram Antão, no Egito, e Simeão Estilita, na Síria. Mais tarde, os monges deixaram de viver sós e passaram a reunir-se em comunidades – os cenóbios ou mosteiros. O monasticismo foi, durante muitos séculos, a principal fonte de renovação e reforma na vida da igreja.
Ultimato – Quem cunhou a célebre frase Ecclesia reformata et semper reformanda est? Ela é oportuna?
Alderi – Não se sabe exatamente quando nem quem cunhou essa conhecida frase. Provavelmente ela surgiu após o período da Reforma, tendo se popularizado no século 19. Existem algumas versões da expressão: Ecclesia reformata et semper reformanda est (A igreja reformada está sempre se reformando) e Ecclesia reformata sed semper reformanda (A igreja é reformada, mas está sempre se reformando ou carecendo de reforma). Esse lema é inteiramente oportuno porque traduz a necessidade constante de reforma, ou seja, de retorno aos fundamentos bíblicos e cristãos que devem caracterizar a igreja. A frase ficou especialmente ligada à Segunda Reforma, ou Reforma Suíça, iniciada por Ulrico Zuínglio e João Calvino, que desde o século 16 ficou conhecida como Igreja Reformada ou Tradição Reformada. Uma ironia do protestantismo é que o mesmo surgiu com uma proposta contestadora, revolucionária e libertadora, mas constantemente corre o risco de tornar-se rígido, estático e conservador. Daí a necessidade contínua de reforma. Portanto, a frase é muito oportuna: ainda que não tenha sido usada pelos reformadores, eles certamente concordariam com o seu espírito.
Ultimato – Quando se fala em reforma, o que está em jogo: a questão teológica, a questão ética ou a questão litúrgica?
Alderi – Todas as três. O aspecto mais básico é o teológico, ou seja, as verdades divinas que devem nortear a fé e a vida dos cristãos. Se a teologia não for correta, isso fatalmente terá conseqüências negativas para a ética e para o culto. Por exemplo, se uma teologia dá mais ênfase ao ser humano, suas necessidades, desejos e escolhas, do que a Deus e sua vontade, a ética e o culto daí resultantes também serão antropocêntricos, e não teocêntricos. Isso explica grande parte da crise de valores experimentada por tantos cristãos nos dias atuais. A boa teologia, por mais que não se aprecie essa expressão, é fundamental para a saúde moral e espiritual dos cristãos. E uma boa teologia significa uma teologia bíblica, equilibrada e consistente; uma teologia que resulta de uma saudável interpretação das Escrituras, que leva em conta “todo o conselho de Deus” e não apenas alguns aspectos do mesmo; uma teologia que não é individualista e subjetiva, mas que considera o legado de reflexão bíblica cuidadosa e reverente que recebemos do passado.
Ultimato – Reforma religiosa sempre provoca cisão na igreja?
Alderi – Essa é uma ocorrência freqüente, em virtude das resistências que sempre se manifestam contra os movimentos reformadores por parte daqueles que desejam a manutenção do status quo, inclusive político-eclesiástico. Por outro lado, a maior parte das cisões que têm ocorrido entre os cristãos, especialmente protestantes, não decorre de anseios legítimos de reforma, mas de outros fatores, alguns muito pouco recomendáveis (personalismos, conflitos de liderança, ensinos questionáveis). Historicamente, a Igreja Católica tem demonstrado maior capacidade de absorver tentativas de reforma sem permitir divisões. Todavia, desde uma ótica protestante, as reformas católicas têm sido pouco radicais, limitando-se, na maioria das vezes, a questões administrativas. A chamada “Reforma Católica” do século 16, realizada pelo Concílio de Trento (1545-1563), foi uma reação contra o protestantismo e preocupou-se antes de tudo em reforçar, não em reconsiderar, os pontos que eram questionados pelos reformados.
Ultimato – Reforma religiosa e unidade da igreja — uma é mais importante que a outra?
Alderi – O Novo Testamento nunca coloca a unidade da igreja como um bem supremo, como um valor que deve ser mantido a qualquer preço. É evidente que a unidade é importante, como expressão do desejo do próprio Jesus manifesto em sua oração sacerdotal (Jo 17) e como conseqüência do conceito paulino da igreja como corpo de Cristo. A questão central é o que se entende por “igreja”: seria a instituição visível ou o conjunto dos cristãos, estejam onde estiverem? Por exemplo: dois grupos podem estar dentro da mesma instituição e ainda assim estarem profundamente separados um do outro, sem nenhuma comunhão entre si. É o que acontece, por exemplo, com os integrantes da TFP e os partidários da Teologia da Libertação. Por outro lado, no meio evangélico membros de diferentes igrejas se tratam como irmãos e participam de projetos comuns. Onde está havendo mais unidade? Os cristãos devem se preocupar tanto com a pureza quanto com a unidade da igreja, sem sacrificar uma por causa da outra.
Ultimato – A reforma religiosa sob o ponto de vista da história costuma ser um processo vagaroso ou um acontecimento abrupto?
Alderi – Nem uma coisa nem outra. A maior parte das reformas verificadas no cristianismo não ocorreram de modo muito rápido nem muito prolongado. Um bom exemplo é o pietismo alemão, o famoso movimento revitalizador do luteranismo no final do século 17 e início do século 18. O movimento surgiu e produziu os seus melhores frutos dentro de algumas décadas, sob a direção de dois líderes notáveis: Phillip Jacob Spener e August Hermann Francke. Outro exemplo relevante é o puritanismo inglês, um movimento de grande impacto renovador nas áreas da teologia, da espiritualidade e da pregação, que em poucas décadas afetou profundamente toda uma nação.
Ultimato – Por que a Reforma Protestante e a Reforma Tridentina não deram o mesmo resultado?
Alderi – Por causa dos objetivos radicalmente diferentes das duas reformas. A reforma protestante foi um movimento contestador, restaurador, de retorno ao que os reformadores entendiam serem os fundamentos bíblicos dos quais a igreja romana havia se afastado. Por sua vez, a reforma católica foi um esforço de preservação da tradição e da identidade católica frente à contestação protestante.
Ultimato – Qual a diferença entre reforma e reavivamento? Os dois eventos caminham juntos?
Alderi – A reforma tem a ver com a restauração da verdade bíblica, com o resgate das convicções básicas da fé cristã, em suma, com o aspecto teológico, doutrinário. O reavivamento está mais ligado à vida prática, à espiritualidade, à comunhão com Deus, ao aprofundamento da vida cristã. Sem avivamento, a reforma pode tornar-se fria, formal e árida, reduzindo-se a uma mera preocupação com a ortodoxia. Por outro lado, sem reforma, o avivamento pode descambar para o emocionalismo superficial e efêmero, para o individualismo que busca experiências arrebatadoras, mas sem um compromisso profundo com Deus e com a igreja. Os dois fenômenos nem sempre caminham juntos, mas deveriam caminhar. O apóstolo Paulo apresenta a fórmula ideal ao exortar os efésios: “Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo” (Ef 4.15).
Ultimato – Houve algum desvio significativo na história recente da igreja (século 20) que justificaria uma reforma hoje?
Alderi – A Igreja Católica demonstrou alguns elementos muito positivos ao longo do século 20, principalmente o despertamento para o clamor dos sofredores, a luta em prol da justiça social, a defesa da dignidade da vida humana. Outros eventos auspiciosos foram a renovação litúrgica e a abertura para o diálogo interconfessional em conseqüência do Concílio Vaticano II. Todavia, desde uma ótica protestante, essa grande e antiga igreja continua a carecer de reforma no âmbito teológico, em virtude da manutenção de convicções e práticas que não encontram respaldo escriturístico e que nunca foram aceitas pela igreja apostólica. O maior exemplo é o culto prestado a Maria e aos santos, que obscurece e relativiza a devoção plena e exclusiva que os cristãos devem à Trindade (“Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” – Mt 4.10). No meio evangélico, por outro lado, ocorreram alguns desdobramentos preocupantes durante o século 20. Um deles foi o progressivo abandono das grandes verdades proclamadas pelos reformadores e seus herdeiros, as chamadas “doutrinas da graça”, em prol de uma teologia centralizada no ser humano, nas suas necessidades e nos seus desejos. Uma das principais áreas em que isso se reflete é o culto. Outro problema é a crescente assimilação, por parte dos evangélicos, dos valores da sociedade de consumo, mediante o discurso pretensamente bíblico da teologia da prosperidade e do sucesso. O resultado é uma espiritualidade imatura, egocêntrica e alienada dos problemas sociais.
Ultimato – Em 1989, o padre belga José Comblin, numa palestra pronunciada no seminário sobre Evangelização e Modernidade, promovido pela CNBB, em Brasília, disse que “a Igreja Católica vai ter que morrer para começar a falar em reforma”. Qual das três vertentes cristãs (católica romana, ortodoxa e protestante) é mais aberta a uma possível reforma?
Alderi – Depende da natureza dessa reforma. Os católicos são mais abertos para reformas nas áreas administrativa (direito canônico), litúrgica e devocional, mas fortemente avessos a reconsiderações de suas posições no aspecto doutrinal. Os protestantes, por causa da sua própria história e mentalidade, têm maior abertura para mudanças nos aspectos teológico e comportamental. A igreja ortodoxa é a mais conservadora das grandes tradições cristãs.
Ultimato – Como situar o fenômeno pentecostal e carismático do início do século passado e, sobretudo, o fenômeno neopentecostal, bem mais recente? Essas igrejas são filhas da Reforma Protestante?
Alderi – O fenômeno pentecostal surgiu nos primeiros anos do século 20, mas foi fruto de eventos que ocorreram no protestantismo americano ao longo de todo o século anterior, a partir do Segundo Grande Despertamento (1800-1830). Esse avivamento resultou em um grande crescimento da Igreja Metodista, com sua tradicional ênfase na santidade, no ativismo e no “perfeccionismo cristão”. Posteriormente, na segunda metade daquele século, surgiu dentro do metodismo o movimento de santidade (“holiness”), do qual, por sua vez, derivou o pentecostalismo. Os estudiosos dizem que o movimento holiness do século 19 já possuía todos os elementos do futuro pentecostalismo, exceto o falar em línguas como evidência do batismo com o Espírito Santo. Não deixa de ser significativo que o pentecostalismo teve grande aceitação em segmentos marginalizados da sociedade americana, como os negros e os imigrantes. Num segundo momento, a partir da década de 50, surgiu o movimento carismático, que foi a ocorrência de fenômenos e ênfases pentecostais na Igreja Católica e nas denominações protestantes históricas, também nos Estados Unidos.
Já o neopentecostalismo, ou “pentecostalismo autônomo”, consiste em um fenômeno das últimas décadas do século 20. Num certo sentido, trata-se do pentecostalismo clássico levado às suas últimas implicações. Esse movimento mais recente mantém algumas características históricas do seu antecessor, mas ao mesmo tempo afasta-se dele em alguns aspectos importantes. O pentecostalismo clássico é conservador nos aspectos doutrinário e litúrgico, e estabelece forte dicotomia entre a igreja e a sociedade. O neopentecostalismo é inovador, está aberto para novas experimentações e não hesita em abraçar certos valores da cultura circundante. No Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus se coloca numa categoria à parte, mesmo entre os neopentecostais, por causa da sua ousadia quanto ao significado dos bens materiais, do uso de técnicas de marketing e das contínuas adaptações a elementos da religiosidade brasileira.
Essas igrejas ainda podem ser consideradas filhas (ou netas) da Reforma Protestante, por manterem certos elementos básicos da mesma (justificação pela fé, ênfase nas Escrituras, sacramentos bíblicos etc.). Ao mesmo tempo, determinados grupos, especialmente neopentecostais, têm se afastado perigosamente de algumas ênfases centrais da Reforma ao darem destaque excessivo a experiências subjetivas e revelações especiais como norma de fé. Ou seja, praticam uma interpretação bíblica alegorizante e tendenciosa, ao dão aos seus líderes um papel crescente como mediadores das bênçãos divinas e especialmente privilegiam um entendimento pouco saudável da vida cristã em termos de uma transação com Deus, e não como uma dádiva graciosa do seu amor imerecido.
Ultimato – Na presente conjuntura histórica, o que você aconselha aos jovens que nasceram e cresceram na pós-modernidade?
Alderi – Em primeiro lugar, a mentalidade pós-moderna é caracterizada pelo individualismo e o subjetivismo. O indivíduo se torna o centro de todas as coisas, e seus desejos, preferências e satisfação pessoal passam a ser os alvos supremos. Os jovens devem resistir a isso, procurando ir além dos projetos meramente individuais e cultivando o idealismo, a solidariedade, o envolvimento com os desafios e as oportunidades da vida comunitária. Isso pode ser desafiador, e exigir disciplina e algumas renúncias, mas é uma experiência que enriquece e aprofunda a vida. Outra característica negativa da pós-modernidade é o relativismo, a falta de referenciais seguros, de valores sólidos pelos quais vale a pena viver e morrer. Diante disso, os jovens cristãos devem cultivar uma identidade clara quanto à sua fé e procurar ter convicções firmes e consistentes, tanto doutrinárias quanto éticas. Por último, o pós-modernismo tem a tendência de supervalorizar as conquistas do presente e desprezar o passado. Os jovens moldados pela cultura pós-moderna precisam saber que o mundo não começou com eles, e que existe beleza e relevância em muitas coisas legadas pelas gerações anteriores.
Fonte: Revista Ultimato, edição 295 – jul/ago de 2005.

sábado, 25 de junho de 2011

Frases - Diógenes de Sínope

"Qual o melhor momento para o jantar? 'Se alguém é rico, quando quiser, se é pobre, quando puder'. "


"Se o corpo chamasse a alma perante a justiça, ele a convenceria facilmente de má administração."


"A sabedoria serve de freio à juventude, de consolação à velhice, de riqueza aos pobres e de ornamento aos ricos"


Diógenes de Sínope, Grego, Século IV a.C.(em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sínope404 ou 412 a.C. – Corinto, c. 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.


Diógenes de Sínope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o idealcínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização.Acreditava que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.
Um fato conhecido de Diógenes é seu encontro com Alexandre, então o homem mais poderoso conhecido. Alexandre solicitou que Diógenes pedisse o que quisesse e este pediu que Alexandre saísse de sua frente pois estava tapando o sol. Diógenes estava com esse ato demonstrando o quão pouco ele necessitava para viver bem conforme sua natureza.


Não sou muito fã do Diógenes mas algumas coisas nele me chamou muito a atenção. Ele entendia que o materialismo é muito fútil e que a vida é melhor vivida com a prática da simplicidade. Também concordo plenamente com ele quando defende piamente que a virtude só tem valor mesmo quando ela sai da teoria e se torna prática



Diógenes sentado em seu barril cercado porcães. Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.


http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=30 e Wikipedia

terça-feira, 21 de junho de 2011

Exibição de vídeo na ABU História

Nesta quarta, dia 22/06 Exibição do Documentário " O Homem antigo", vídeo da série segredos milenares da Bíblia
Duração: Aprox. 31 min
Local: UFPB, CCHLA, Sala 406
HORÁRIO: 18 horas

contato: Helton 3042 7423


Arte e racismo: o Aleijadinho e os profetas



Estudei em S.João Del Rey na década de 70. Fui a Congonhas, algumas vezes. Cenário colonial maravilhoso, e até emocionante para o observador da história cultural deste país. Na primeira, por motivos e afinidades evangélicas, quedei-me diante das esculturas vandalizadas – na ocasião – dos profetas do Aleijadinho. Já disseram: "Dentro do espaço aberto de uma única declaração coletiva trovejante que anuncia o Dia da Ira", cada profeta aparece em doloroso conflito: não podem evitar as palavras de fogo que queimam seus lábios diante da iniquidade, da corrupção, dos desmandos dos poderes, dos abusos cometidos contra o povo. As esculturas falam, a arte geme! A violência contida diante da discriminação, do preconceito, da intolerância, da exclusão do diferente, poderiam ser identificadas como o biógrafo renascentista Giorgio Vasari atribuiu a Michelangelo: terribilitá. Aterrorizante, face ao "branqueamento espiritual" pretendido. O escultor subverte a ordem vigente enquanto os poderes dominantes exigem silêncio e submissão. Impossível dissociar o Aleijadinho de Tiradentes, o mártir da Inconfidência Mineira. Deus fala contra as injustiças e desigualdades nas esculturas do Aleijadinho.

A arte barroca, por suas linhas excessivamente envolvidas em adornos, sugere uma pérola oculta na ostra áspera, depois de ferida pelo grão de areia que a transformará numa jóia de valor. O Aleijadinho trabalhou por meio da ocultação, usando o conceito profético de indignação e denúncia da opressão através de muitas camadas de lustre, movimentos e imagens contorcidas, que não permitem compreender imediatamente a ideia central em sua complexidade e implicações. Perfeito! O barroco encontrou o Aleijadinho, artista extraordinário, machucado pelos preconceitos e pelas opressões do colonizador. Era o senhor branco que explorava o colonizado.

Sua mãe e seu povo escravizado devem ter-lhe contado as histórias ancestrais de deuses africanos livres, como acreditava Zumbi dos Palmares, e de um deus ancestral libertador, pregado num madeiro por causa dos pecados da religião e das potências que impunham, por determinismos históricos, a escravidão e a exploração dos fracos e sem poder. O Deus dos brancos, no entanto, era manipulado nas histórias trazidas de Portugal pelos religiosos e políticos, desmentindo o que ele leu de verdade nos profetas e demais textos das Escrituras. Eis a diferença: a glória de Deus está na boca, nos gestos e na postura dos profetas: Deus fez sua opção em favor do homem em carne e osso, com ele vivendo no corpo oprimido pela escravidão, pelo preconceito, racismo e discriminação, usados para engrandecer os poderes deste mundo.

Não se sabe quando nasceu Antônio Francisco Lisboa, mas sua certidão de batismo cristão foi emitida em 18 de novembro de 1814. Filho bastardo de uma escrava africana, seu pai foi um arquiteto português, Manoel Francisco, que o iniciou nas artes. Mas há teologia na formação daquele jovem genial, através do padre Manoel Ribeiro Rocha, também impregnado da filosofia de J-J.Rousseau, e de Montesquieu. Importantes nos primeiros libelos em favor dos Direitos Humanos consagrados pela ONU (1948), buscados nos antecedentes da Revolução Francesa. Aprendeu que escravos, no sentido figurado religioso ou no sentido literal, social, político, são filhos e irmãos de seu senhor. O padre lhe dizia: “Eles têm uma alma, como os brancos, e Nosso Senhor Jesus Cristo também morreu e sofreu por eles; na igreja, são iguais, participam da mesma mesa da comunhão”. Já se advinha o que o Aleijadinho concluía olhando no espelho...

A carreira do Aleijadinho, no início, foi muito bem sucedida. O pintor João Gomes Batista ajudou-o, além de seu pai. Uma biografia de autoria de Rodrigo Brêtas (1858) dizia: “ele tinha a pele escura, voz forte, temperamento irritadiço, estatura baixa, gordo e disforme. Lia e escrevia, mas provavelmente não passou da escola primária. Mas foi privilegiado pela condição de filho de fidalgo. Assim, dispunha de servidores escravos que o ajudavam. Perdeu a visão e os dedos, tinha que evitar a luz do sol trabalhando sob uma tenda. Saía de casa antes do amanhecer, para não ser visto”. Que doença o acometeu e deformou? Talvez a lepra, diagnosticou o médico Geraldo Carvalho (1988), na exumação de seus restos mortais. Mas deixou marcas profundas na arte, sob a dupla condição de deficiente físico afro-descendente. Entrou para a história das artes como artista subversivo e libertário. Sua arte, consagrada ainda em vida, enaltece a luta em favor das igualdades, contra a exclusão do deficiente, preconceitos sociais e raciais, e principalmente contra a intolerância.


É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010).

fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/arte-e-racismo-o-aleijadinho-e-os-profetas

That's My King! - S M Lockridge (legendado)

Essas  imagens foram inseridas ao áudio do famoso sermão "Seven Way King" (ou That's My King) do Dr. S. M. Lockridge. O áudio foi editado para uma melhor fluidez no vídeo.

A música de fundo era tocada ao vivo pela banda da Granger Community Church enquanto o vídeo jogado nas telas. Em seguida, entrou diretamente na canção de adoração "Here is Our King" (Para ver o desempenho em sua totalidade: gccwired.com/mediaplayer/playeropener.asp?id=478 )

Criado inteiramente usando efeitos com cenas do filme "A Paixão de Cristo". O vídeo levou 30 horas para criação mais cerca de 6 horas de processamento.
Esse vídeo me impactou e creio que também vai mexer com você.


Por Helton de Assis

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA



        
por Bruno Pontes da Costa. EST. Brasil[1]

    A abordagem deste texto-reflexão evidencia a conceituação e caracterização dos elementos da imanência e da transcendência que perpassam pela análise epistemológica da área do conhecimento religioso enquanto educação.
    O termo "imanência" é normalmente entendido como uma força divina, uma divindade ou o ser divino, que permeia todas as coisas que existem e é capaz de influenciá-las direta ou indiretamente. Tal significado é comum no panteísmo e no pampsiquismo, isto implica em que a divindade esta inseparavelmente presente em todas as coisas. Neste significado de imanência é distinto da transcendência, mais tarde entendido como a divindade sendo separada ou transcendente ao Mundo.
    No contexto da teoria de Kant do conhecimento de imanência, significa manter nos limites da experiência do possível.
A transcendência é um termo que na Filosofia pode conduzir a três diferentes, porém relacionados significados, todos eles originaram-se da raiz latina "ascender" ou indo além, sendo, um significado originado na filosofia antiga, passando pela filosofia medieval e moderna.
    Algo é transcendental se isto tem um papel no modo como a mente "constitui" os objetos e se faz possível a nós experimentá-los como objetos em primeiro lugar (algo palpável, tangível). Normalmente o conhecimento é o saber sobre um determinado objeto; conhecimento transcendental é o saber de como é possível para nós experimentarmos estes objetos como objetos. Isto se baseia no conceito de Kant do argumento de David Hume que certas características do objeto (tais como a persistência, relações causais) não podem derivar da impressão que temos deles.
    A discussão aqui originada se dá em torno dos conceitos de imanência e transcendência e está exposta principalmente, nas obras de Spinoza, Emmons e Manuel Sérgio, situação a qual no momento, nos impossibilita tecer determinados comentários, devido a profundidade do assunto em pauta e o tempo correlacionado.

Em essência bruta, a imanência, por meio da etimologia, se traduz pelo pertinente a um ente, como a existencialidade própria do ser humano. O imanente está no todo que compreende o ser humano, o próprio homem, mas, o transcendente é tudo o que está na possibilidade humana. Ao concordar-se com Emmons (2000), sobre a inteligência espiritual, admite-se que o sentido imanente dessa inteligência espiritual possibilita e pode promover a transcendência. Para o autor, a espiritualidade ou inteligência espiritual permite ao sujeito estabelecer um contato íntimo com o poder supremo e com o próprio sujeito, com o mundo, com a morte e com a vida, considerando esse dado como forma de compreensão cognitiva.

A divindade seria transcendente e, ao mesmo tempo, imanente. Seria transcende porque só Ela seria o ser, enquanto o mundo dos seres visíveis seria a pura ilusão do conhecimento abstrativo. A Divindade seria também imanente porque estaria, atualmente, presa no mais profundo de todas as coisas (ANACLETO, 2006).


A inteligência espiritual é definida a partir de dois aspectos: a existência de um conjunto de capacidades (faculdades) e habilidades associadas à espiritualidade (cognitivos de fé ou exercício de fé) e às diferenças individuais dessas capacidades e habilidades conferidas pela subjetividade desse sujeito. Nessa mesmo entendimento, a inteligência espiritual consiste em um conjunto de competências que fazem parte do conhecimento adaptativo desse homem, o que caracteriza o processo cognitivo.
Nessa perspectiva, a transcendência, relacionada ao sagrado, é resultante latente de uma formação espiritual que consiste na reunião de informações e conhecimentos relativos ao sagrado e que permitem que o sujeito se aproxime do divino, do espiritual, da crença, da religião, de Deus.
Etimologicamente, transcender é elevar-se acima ou ir além do mundo e do cotidiano. Com relação ao divino, é aproximar-se, estreitando o relacionamento com o sagrado.
Os dois conceitos, com certeza são faces de uma mesma substância. A própria possibilidade de transcender é imanente ao ser humano. Correlações entre espírito e corpo. Dimensões humanas do ser.

Bibliografia.

ANACLETO, José Manuel. Imanência e transcendência de Deus. Disponível: http://www.biosofia.net/biosofia2/bio2_99_trans_imanencia3.asp. Acessado: 11.05.2006

_____. Corpo, religião e escola: ética e moral nos códigos gestuais. Anais do IV Congresso Latino-americano da Unimep. 2006.

Baruch Spinoza. Disponível: http://www.mundodosfilosofos.com.br/spinoza.htm. Acessado: 11.05.2006.

DUROZÓI. Gérard. ROUSSEL, André. Dicionário de Filosofia. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1996.

EMMONS, Robert. Is spirituality an intelligence? Motivation, cognition, and the Psychology of Ultimate Concern. In The International Journal for the Psychology of Religion, vol. 10, number 1, 2000. p. 3-25

MANUEL SÉRGIO. Epistemologia da Motricidade Humana. Lisboa: Ed. FMH, 1996.



[1] Bacharel em Sociologia e Teologia, Pós-Graduando em Ética Subjetividade e Educação da EST, faz mestrado em Magister Divinitatis pela FATEFFIR e Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Portugal. Colaborador deste Blog.