segunda-feira, 23 de julho de 2012

Hora de Filosofar: “Jovens: Bem fortes, mas...”

por Bruno Pontes da Costa


Quando fui Aluno da Arma de Infantaria, no NPOR (2004), um simples e jovem estudante universitário do curso de Letras e Teologia, sempre escutei um jargão que se falava no Exército: (...) tem que ser: Bem forte e bem burro!”.Em princípio, eu nunca entendi muito bem o que isto verdadeiramente significava, mas hoje, com outros olhos e um pouco mais de experiência, posso perceber que a grande verdade desse texto, também se disseminou para dentro das escolas e principalmente em algumas Igrejas.
Em uma reportagem executada pela Organização das Nações Unidas - ONU, informa que dos 65 países examinados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos de 2009, o Brasil ficou em 53º lugar em leitura e 57º em matemática. É verdade que ainda não conseguimos alcançar potências como Trinidad e Tobago, Cazaquistão e Azerbaijão, mas em compensação nenhum país está tão preocupado com a busca da felicidade da humanidade quanto nós.
Como explicou Paulo Freire*, “Educar tem pouco a ver com ensinar a ler e escrever”; é antes de tudo preparar o cidadão para que ele seja transbordante de consciência social, tipo predominante nas salas de aula desde que os pedagogos sepultaram a ideia opressora de que a escola deve ensinar português e matemática e banalidades afins, tornando o aluno capaz de ler e contar, e ser razoavelmente apto para andar com as suas próprias pernas.
Porém, esse princípio de Educação com “visão de mundo”, não ajudou muito a Educação do país não! (É só verificar o PIAA 2011) E ainda tem gente que lê esse texto e que acredita em propagandas do Governo que dizem que a educação no país melhorou! De que forma? Onde? 
Infelizmente, a ideia proposta por Paulo Freire de emancipação política do indivíduo, e a crítica reflexiva do homem sobre sua própria condição de oprimido, não vingou por um simples motivo... A igreja também era opressora! A própria Teologia da Libertação foi algo considerado quase que herético por parte da Instituição. Afinal de contas, não poderia ser diferente. Como um jovem engajado no verdadeiro Reino de Deus, poderia ter mais conhecimento do Cristo vivo, do que o sacerdote (grande teólogo super conhecedor do Kosmos**!), isso seria inconcebível para a nossa real sociedade.
Sendo assim, como refletir sobre nossa própria condição de “livres”, se ainda estamos presos a um passado de dogmas, paradigmas e “frescuras religiosas”? E isso tem nos impedido de ver a verdade desvelada no próximo emancipado, no outrem em busca de sua certeza da "caminhada".
Ora, "alunos burros" não poderão ser outra coisa, se não, "crentes burros"! Como se por acaso enchêssemos os jovens das igrejas de atividades, fossem torná-los mais íntimos de Deus, ou das Sagradas Escrituras. Isso não passa de uma grande mentira! Os jovens precisam ser críticos sim, para que recebam pilares que os sustentem para  a vida toda, e não para satisfazê-los apenas em um momento específico da vida! Críticos sim, mas de sua real situação como filhos de Deus e irmão de seu próximo.
A questão não é saber de que ministério participa, ou, de qual igreja faz parte, ou, qual o seu mestre/padre/pastor/mentor... Mas, uma reflexão genuína de sua liberdade de expressão diante de Deus e dos homens, sem preconceitos ou opressão, por parte pastoral ou ministerial de onde viva ou congregue.
A verdade desse resultado científico da ONU dentro das igrejas, se dá quando o jovem não pode participar das decisões como alguém importante no processo de construção (situação a qual o é!), ou quando são excluídos por terem uma “visão” diferente, ou por não concordarem com os posicionamentos impostos pelo sistema eclesiástico, então àquele jovem, acaba por ficar alienado do conhecimento empírico do cristianismo, como o de ter “experiências com Deus”, transformando-os em verdadeira força motriz para os trabalhos secundários da igreja, como: entregar panfletos, fazersites, organizar atividades com crianças de forma discreta e "voluntória", mas, cobrá-los de todas estas atividades, como se fossem profissionais da coisa, sem pelo menos, ensiná-los do que fazer. Traduzindo: querem o peixe pronto, sem ensiná-los a pescar. Caso contrário, Sun Tzu*** neles!!!
É ai que as coisas se encaixam como uma luva para o filósofo francês Voltaire, quando afirma que: “É bom que os pobres continuem pobres e ignorantes, para serem mais fáceis de controlar” (tradução livre), ora, isso faz com que o jovem não pergunte porque isso é assim e não assado? Ou, por que tem de ser desse jeito? Ou, isso não está na bíblia! Ou então, não me sinto bem em fazer isso! Pois, não soaria muito bem na "igreja" não é?! Logo, é melhor ficar calado para não ser disciplinado ou ser excluído da panelinha dos supercrentes que “sabem de tudo”! E no fundo e no raso, não sabem de nada.
Essas consequências tem criado uma geração de jovens desinteressados do Senhor, pois, estão tão ocupados e preocupados com suas “Responsabilidades” (não sei quais?), que não leem mais a bíblia, não oram mais, não ajudam mais seus próprios amigos ou familiares, não ajudam mais ninguém e em nada do que verdadeiramente é importante: Jesus e o Reino de Deus. Daí com muita sabedoria, o discípulo amado de Cristo, em sua primeira carta diz: "... Eu vos escrevi, jovens porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno" 1 Jo 2.1 .
Para concluir, acabo por concordar sociologicamente, que a superficialidade a qual temos enfrentado no cristianismo “jovem” de hoje,  deixa muito claro que o Exército e a Igreja só servem como instrumentos de repressão e aparelhos do Estado, pois, realmente só precisam de "jovens"...
"... Bem fortes", mas, "bem burros"... 
Pr. Bruno Pontes


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      *- Paulo Freire, em: Pedagogia do Oprimido.
    **- Kosmos (grego), trad.: Mundo.
  ***- Sun Tzu, em: A Arte da Guerra.

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