Durante minha caminhada com Cristo passei por inumeraveis e variadas
experiências. Cresci muito com outros irmãos, com pastores, viagens
missionárias, eventos evangélicos, entre outros. Todavia percebi que, ao
contrário do que eu pensava até certo momento, as comunidades cristãs
as vezes são vulneráveis a muitos problemas. Isso foi confirmado pelo
Senhor Jesus quando afirmou que "há joio no meio do trigo".
Quero aqui abordar sobre dois problemas comuns em muitas congregações
cristãs. O problema do legalismo e o problema da libertinagem. Dois
problemas diferentes um do outro, mas que o mesmo tempo são
interligados. Vi várias vezes alguns cristãos serem injustamente taxados
de legalistas por alguns, como também eu mesmo passei por isso ao
manifestar
descontentamento com algumas práticas inconvenientes “comuns” em algumas
comunidades evangélicas.
Vejamos e analizemos algumas questões sobre a temática "legalismo e libertinagem"
1.
O real
significado de legalismo: Legalismo é o ato de inventar pré-requisitos para
salvação, sem nenhuma base bíblica. Legalismo também significa impor fardos
religiosos sem sentido sobre a vida de uma pessoa.
O professor James Packer , em seu livro “Teologia
Concisa” afirma sabiamente: “Qualquer
acréscimo que requeira de nós uma tomada de ação para acrescentar algo ao que
Cristo nos deu é um retorno ao legalismo e, de fato, um insulto a Cristo.” John Hendryx também define o legalismo de forma interessante: “Qualquer tentativa de apoiar-se no esforço próprio para obter ou
manter nossa justificação diante de Deus é legalismo.
2.
O que não
é legalismo: Muitos infelizmente confundem zelo e disciplina com legalismo.
A bíblia ressalta a necessidade da disciplina em todas as áreas de nossas
vidas. Ninguém vence uma batalha ou alcança seus objetivos sem disciplina. Na
vida cristã e no funcionamento ministerial da igreja é da mesma forma: Sem
disciplina as coisas ficam bagunçadas.
Todos sabemos que as comunidades cristãs são compostas
por pessoas imperfeitas e pecadoras, entretanto Cristo nos exortou a lutar pelo
aperfeiçoamento e rejeitar a libertinagem. É aí que entra a disciplina cristã. Cristo afirmou:
“Se teu irmão pecar
contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir , ganhastes a teu
irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para
que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça.
E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja,
considera-o como gentil e publicano.” (Mateus 18.15-17)
Já Paulo diz:
“Caso alguém não
preste obediência à nossa palavra dada por esta epistola, notai-o; nem vos
associeis com eles, para que este fique envergonhado. Todavia, não o
considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.” (2ª Tessalonicences 3.
14 e 15)
Sem zelo e sem censura em determinadas ocasiões nenhuma
igreja pode está bem ajustada aos planos de Deus. Enquanto a igreja for
composta por seres humanos ela carecerá de orientação e cuidados constantes. O zelo é indispensável, sem ele nos afastamos
das exigências éticas bíblicas, da pureza espiritual e até mesmo do amor.
3.
Exemplos
de autêntico legalismo: No Novo Testamento encontramos um caso interessante
de legalismo. O evangelho de São Mateus relata Jesus criticando fortemente
alguns líderes Judeus que impunham sobre a população ritos e práticas
religiosas vazias e prejudiciais para alma:
“...Amarram fardos
pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao
menos com um dedo, a carregar esses fardos.(...) Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a
porta do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam
que entrem os que estão querendo entrar. (...) Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês
atravessam os mares e viajam por todas as terras a fim de procurar converter
uma pessoa para a sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas
vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.(...) Ai de vocês, mestres
da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês lavam o copo e o prato por fora, mas
por dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e
pela ganância. Fariseu cego! Lave primeiro o copo por dentro, e então a parte
de fora também ficará limpa!
Ai de vocês,
mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês são como túmulos pintados de
branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de
mortos e de podridão. Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão
cheios de mentiras e pecados.” (Mateus capitulo 23)
Os fariseus do tempo de Cristo são exemplo de praticantes
de legalismo. Eles eram meramente formalistas, muitos inclusive valorizavam fundamentalmente
a aparência da ação e negligenciavam motivos e propósitos. O legalista tende a reduzir a vida à guarda mecânica de regras.
Nos dias de hoje o legalismo virou algo muito presente no
meio evangélico, especialmente no Brasil, um país muito marcado pelo formalismo
e tradicionalismo. Existem aqueles que afirmam
que uma mulher ao aceitar Jesus precisa passar a usar apenas saia ou
deixar de usar esmalte nas unhas; também existem aqueles que erroneamente
afirmam que um cristão verdadeiro não pode tomar nenhum gole de bebida
alcoólica pois esta seria intocável para um servo de Deus (é claro que o
problema esta em se embriagar ou digeri-la na presença de irmãos de fé frágil).
Existe inclusive alguns que afirmam que o cristão não pode assistir uma boa
partida de futebol ou torcer para o time de sua cidade conquistar o campeonato
regional. Existe legalismo de várias formas, desde o proibir um convertido a
escutar uma bela música de Toquinho ou Andrea Bocelli até o ato de impedir uma
pessoa de participar de um culto por estar de bermudão.
4.
Exemplos
de zelo cristão erroneamente confundidos com práticas legalistas:
Infelizmente muitos ao combater práticas negativas e libertinagens no meio
evangélico acabam sendo taxados de legalistas. Mas independente do que alguns
pensam acerca da disciplina eclesiástica precisamos valoriza-la, pois como
vimos ela é fundamental.
Um exemplo de zelo confundido com legalismo que aconteceu
na minha própria vida ocorreu no verão de 2009, durante um acampamento para adolescentes.
Na ocasião o pastor responsável pelo evento ao cantar uma música no auditório
pediu para que a banda tocasse um pagode, o problema começou quando ele decidiu
rebolar semelhantemente àqueles cantores do carnaval baiano em cima de um trio
elétrico. Logo após ele chamou mais alguns lideres para dançarem e
“requebrarem” com ele e aquela ocasião transformou-se em um autêntico bloco
carnavalesco, faltando apenas o abadá. Ao termino da “quebradeira” questionei o
“pastor swingueiro” acerca da conveniência do ocorrido e ele simplesmente
afirmou ofendido: “O que fizemos foi para chamar a atenção dos não-convertidos
e quebrar o gelo. Você parece que não sabe discernir isso. Não seja radical
Helton!”. Me arrependo de não ter até hoje respondido: “Desde quando precisamos
da ajuda do Diabo para evangelizar e fazer a obra de Deus?”
É triste saber que métodos perigosos tem sido usados por
muitas igrejas afim de multiplicar a quantidade de evangélicos. Pior saber que realmente
cresce rapidamente o numero de membros de muitas dessas igrejas. Pena que nem todos percebem que esse tipo de
crescimento é semelhante ao crescimento de um frango de granja, cujo
desenvolvimento é forçado por hormônios injetados, mas em contrapartida o sabor
desta carne é bem inferior ao do frango de criação, com desenvolvimento
natural.
São muitos os casos: Alguns seguidores de Jesus são
criticados por afirmarem ser contra determinadas danças sensuais, outros são
taxados por não aprovarem a participação de crentes em esportes violentos ou em
grupos musicais cujas letras desrespeitam a Deus e ao próprio homem,outros são
tidos como radicais ao afirmarem que não convem ao cristão assistir filmes de
terror, e assim vai...
Não podemos nos conformar com práticas erradas no meio
cristão, precisamos mostrar o que a Bíblia diz, independente da perseguição que
podemos sofrer.
Para
encerrar: O que será pior, o legalismo ou a libertinagem?
Não sei ainda, mas podemos ter a certeza
que ambos precisam ser combatidos de forma inteligente. Alguém certa vez disse:
“quando um erro é insistentemente repetido várias vezes seguidas ele tende a
deixar de ser considerado um erro”. Se
não prezarmos pela integridade do nosso cristianismo teremos nossa integridade
em crise.
Por rejeitarem o amor e a
simplicidade muitas igrejas tem se tornado meras salas de aula monótonas e com
professores monótonos ou simples postos de desencargo de consciência. Por
rejeitarem o zelo, muitas igrejas tem se tornado meros clubes sociais ou meros
teatros e casas de show.
O Senhor nos fortaleça integralmente, em nome de Jesus!
O Senhor nos fortaleça integralmente, em nome de Jesus!
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