quarta-feira, 24 de abril de 2013

LEGALISMO E LIBERTINAGEM

por HELTON DE ASSIS
Durante minha caminhada com Cristo passei por inumeraveis e variadas experiências. Cresci muito com outros irmãos, com pastores, viagens missionárias, eventos evangélicos, entre outros. Todavia percebi que, ao contrário do que eu pensava até certo momento, as comunidades cristãs as vezes são vulneráveis a muitos problemas. Isso foi confirmado pelo Senhor Jesus quando afirmou que "há joio no meio do trigo". 
Quero aqui abordar sobre dois problemas comuns em muitas congregações cristãs. O problema do legalismo e o problema da libertinagem. Dois problemas diferentes um do outro, mas que o mesmo tempo são interligados. Vi várias vezes alguns cristãos serem injustamente taxados de legalistas por alguns, como também eu mesmo passei por isso ao manifestar descontentamento com algumas práticas inconvenientes “comuns” em algumas comunidades evangélicas.  
Vejamos e analizemos algumas questões sobre a temática "legalismo e libertinagem"
1.       O real significado de legalismo: Legalismo é o ato de inventar pré-requisitos para salvação, sem nenhuma base bíblica. Legalismo também significa impor fardos religiosos sem sentido sobre a vida de uma pessoa.
O professor James Packer , em seu livro “Teologia Concisa” afirma sabiamente: “Qualquer acréscimo que requeira de nós uma tomada de ação para acrescentar algo ao que Cristo nos deu é um retorno ao legalismo e, de fato, um insulto a Cristo.”  John Hendryx  também define o legalismo de forma  interessante: “Qualquer tentativa de apoiar-se no esforço próprio para obter ou manter nossa justificação diante de Deus é legalismo.
2.       O que não é legalismo: Muitos infelizmente confundem zelo e disciplina com legalismo. A bíblia ressalta a necessidade da disciplina em todas as áreas de nossas vidas. Ninguém vence uma batalha ou alcança seus objetivos sem disciplina. Na vida cristã e no funcionamento ministerial da igreja é da mesma forma: Sem disciplina as coisas ficam bagunçadas.
Todos sabemos que as comunidades cristãs são compostas por pessoas imperfeitas e pecadoras, entretanto Cristo nos exortou a lutar pelo aperfeiçoamento e rejeitar a libertinagem. É aí que entra a disciplina cristã.  Cristo afirmou:
“Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir , ganhastes a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentil e publicano.” (Mateus 18.15-17)
Já Paulo diz:
“Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epistola, notai-o; nem vos associeis com eles, para que este fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.” (2ª Tessalonicences 3. 14 e 15)
Sem zelo e sem censura em determinadas ocasiões nenhuma igreja pode está bem ajustada aos planos de Deus. Enquanto a igreja for composta por seres humanos ela carecerá de orientação e cuidados constantes.  O zelo é indispensável, sem ele nos afastamos das exigências éticas bíblicas, da pureza espiritual e até mesmo do amor.
3.       Exemplos de autêntico legalismo: No Novo Testamento encontramos um caso interessante de legalismo. O evangelho de São Mateus relata Jesus criticando fortemente alguns líderes Judeus que impunham sobre a população ritos e práticas religiosas vazias e prejudiciais para alma:
“...Amarram fardos pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos.(...) Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam que entrem os que estão querendo entrar. (...) Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês atravessam os mares e viajam por todas as terras a fim de procurar converter uma pessoa para a sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.(...) Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Fariseu cego! Lave primeiro o copo por dentro, e então a parte de fora também ficará limpa!
Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês são como túmulos pintados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de podridão. Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados.” (Mateus capitulo 23)
Os fariseus do tempo de Cristo são exemplo de praticantes de legalismo. Eles eram meramente formalistas,  muitos inclusive valorizavam fundamentalmente a aparência da ação e negligenciavam motivos e propósitos.  O legalista tende a reduzir  a vida à guarda mecânica de regras.
Nos dias de hoje o legalismo virou algo muito presente no meio evangélico, especialmente no Brasil, um país muito marcado pelo formalismo e tradicionalismo. Existem aqueles que afirmam  que uma mulher ao aceitar Jesus precisa passar a usar apenas saia ou deixar de usar esmalte nas unhas; também existem aqueles que erroneamente afirmam que um cristão verdadeiro não pode tomar nenhum gole de bebida alcoólica pois esta seria intocável para um servo de Deus (é claro que o problema esta em se embriagar ou digeri-la na presença de irmãos de fé frágil). Existe inclusive alguns que afirmam que o cristão não pode assistir uma boa partida de futebol ou torcer para o time de sua cidade conquistar o campeonato regional. Existe legalismo de várias formas, desde o proibir um convertido a escutar uma bela música de Toquinho ou Andrea Bocelli até o ato de impedir uma pessoa de participar de um culto por estar de bermudão.
4.       Exemplos de zelo cristão erroneamente confundidos com práticas legalistas: Infelizmente muitos ao combater práticas negativas e libertinagens no meio evangélico acabam sendo taxados de legalistas. Mas independente do que alguns pensam acerca da disciplina eclesiástica precisamos valoriza-la, pois como vimos ela é fundamental. 
Um exemplo de zelo confundido com legalismo que aconteceu na minha própria vida ocorreu no verão de 2009, durante um acampamento para adolescentes. Na ocasião o pastor responsável pelo evento ao cantar uma música no auditório pediu para que a banda tocasse um pagode, o problema começou quando ele decidiu rebolar semelhantemente àqueles cantores do carnaval baiano em cima de um trio elétrico. Logo após ele chamou mais alguns lideres para dançarem e “requebrarem” com ele e aquela ocasião transformou-se em um autêntico bloco carnavalesco, faltando apenas o abadá. Ao termino da “quebradeira” questionei o “pastor swingueiro” acerca da conveniência do ocorrido e ele simplesmente afirmou ofendido: “O que fizemos foi para chamar a atenção dos não-convertidos e quebrar o gelo. Você parece que não sabe discernir isso. Não seja radical Helton!”. Me arrependo de não ter até hoje respondido: “Desde quando precisamos da ajuda do Diabo para evangelizar e fazer a obra de Deus?”
É triste saber que métodos perigosos tem sido usados por muitas igrejas afim de multiplicar a quantidade de evangélicos. Pior saber que realmente cresce rapidamente o numero de membros de muitas dessas igrejas.  Pena que nem todos percebem que esse tipo de crescimento é semelhante ao crescimento de um frango de granja, cujo desenvolvimento é forçado por hormônios injetados, mas em contrapartida o sabor desta carne é bem inferior ao do frango de criação, com desenvolvimento natural.
São muitos os casos: Alguns seguidores de Jesus são criticados por afirmarem ser contra determinadas danças sensuais, outros são taxados por não aprovarem a participação de crentes em esportes violentos ou em grupos musicais cujas letras desrespeitam a Deus e ao próprio homem,outros são tidos como radicais ao afirmarem que não convem ao cristão assistir filmes de terror, e assim vai...
Não podemos nos conformar com práticas erradas no meio cristão, precisamos mostrar o que a Bíblia diz, independente da perseguição que podemos sofrer.
Para encerrar: O que será pior, o legalismo ou a libertinagem?
Não sei ainda, mas podemos ter a certeza que ambos precisam ser combatidos de forma inteligente. Alguém certa vez disse: “quando um erro é insistentemente repetido várias vezes seguidas ele tende a deixar de ser considerado um erro”.  Se não prezarmos pela integridade do nosso cristianismo teremos nossa integridade em crise.
Por rejeitarem o amor e a simplicidade muitas igrejas tem se tornado meras salas de aula monótonas e com professores monótonos ou simples postos de desencargo de consciência. Por rejeitarem o zelo, muitas igrejas tem se tornado meros clubes sociais ou meros teatros e casas de show.




O Senhor nos fortaleça integralmente, em nome de Jesus!

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