sexta-feira, 8 de julho de 2011

Crer ou não Crer: Eis o Cristão! (Parte I)

por Bruno Pontes Costa

Qualquer semelhança com a celebre frase – “To be or not to be: that's the question” – da obra Hamlet, de William Shakespeare ou com sua igreja local, não importa onde, não será uma mera coincidência!


Crer ou não Crer: Eis o Cristão!  (Parte I) 

"No more! o never more!"
Shelley

" Crer é também Pensar."
John Stott

Introdução

Antes de iniciar minhas palavras, em um diálogo com um grande amigo e irmão em Cristo, gostaria de que este texto teológico-reflexivo (assim com os “anteriores”!) não fosse encarado como um dos episódios cômicos do super-herói atrapalhado da década de 70’, CHAPOLIN, quando o mesmo confecciona uma “roupa invisível para o rei”, onde só os “inteligentes” podiam ver (tô falando sério!).
Estas duas epígrafes são referidas de dois grandes pensadores, a primeira dePercy Bysshe Shelley, um dos mais importantes poetas românticos ingleses[3], inclusive citado com ênfase no poema Lembranças de morrer de Álvares de Azevedo, inserido na segunda geração romântica, conhecida também como Ultraromantismo. O tema principal aqui é a morte, a desilusão com a vida. A morte aqui é vista como escapismo, ou seja, o eu lírico não aceita a realidade e encontra na ideia da morte, como se a morte fosse um refúgio para seus conflitos interiores, por não quere lutar por ela, mas aceitar qualquer coisa para que ele continue como sempre esteve (acomodado). A indignação com a vida é tão grande que afirma "deixá-la como quem deixa o tédio", diferente de Paulo (Fp 1:21) onde afirma que “...morrer é lucro”. Aponta os sentimentos que seriam sentidos por aqueles que verdadeiramente o compreendem e são seus únicos e verdadeiros amigos.
É latente o pessimismo do eu lírico no poema, isso nada mais é do que uma das muitas características do Ultrarromantismo, sem finalidade religiosa ou social. Porém, para nós que somos cristãos precisamos aprender que necessariamente temos que morrer todos os dias, morrer para o passado pecaminoso impregnado em nossa essência humana. Morrer para a inércia pseudo-cristã que transforma a igreja ativa em uma igreja ativista. Cristãos acomodados, preguiçosos, que não evangelizam ninguém, não perdoam ninguém, não amam ninguém (embora falem que sim), não se preocupam com ninguém, a não ser com seus próprios interesses... Lembro-lhe que você não é o que você diz, e sim o que você faz lhe diz quem você é de verdade.
A segunda é do grande doutor em teologia britânico, o anglicano John Robert Walmsley Stott[6]em seu livro “Crer é também pensar”, fala sobre a vida Cristã, mais explicitamente sobre o pensamento ‘racional’ do cristão, na busca do conhecimento da palavra de Deus e do próprio Deus.  Stott passa a demonstrar que assim como o restante da Criação, a razão é um dos dons que Deus deu ao homem para que, com ela, o louvasse. “Não sejais como o cavalo, ou como a mula, que não têm entendimento”, adverte o salmista. Apesar de que tudo que tem fôlego seja convocado a louvar ao Senhor, apenas ao gênero humano, ou seja, todos nós; se exige que seja feito “com entendimento”. Afinal de contas, o cristão deve se esforçar por oferecer a Deus um sacrifício vivo, que é o “culto racional” (Rm 12).
Neste “livretinho” (só de tamanho) são apresentados diversos momentos em que o próprio Deus chama suas criaturas a pensar. Pelo menos em três momentos distintos, Ele chama para o debate (dialogar, e expor suas ideias não é bater de frente ou ser insubmisso)  “Vinde e arrazoemos, diz o Senhor”, ou questiona o porquê do não entendimento dos sinais dos tempos (“Por que não usais os vossos cérebros? Por que não aplicais ... o sentido comum ... ?”– interpretação livre do autor) e ainda convida para a arguição, “Eu lhe perguntarei, e tu me responderás”, o problema mesmo é que hoje tem crente que acredita em tudo o que se diz, na igreja e fora dela sem nem sequer perguntar primeiro à Deus (também, não oram mais! Nem leem mais as Sagradas Escrituras!). Todos esses chamados à racionalidade também levam à necessária responsabilidade que isso nos implica. Não se misturar com o pecado e nem se ajuntar com pecadores (Sl 1), nem participar de coisas erradas passando a mão ou empurrando com a barriga para encobrir pecado alheio (2 Jo 9-11)  ...
Então como deveremos responder a Deus? Ou como entender de maneira correta o que Ele nos diz? Por isso, os seres “criados para pensar” devem estar atentos ao simples fato (embora que para alguns isso é muito difícil de entender!) de que o seu Criador os responsabilizará em tudo a partir de seu conhecimento. A quem muito é  dado...
Esses conceitos mostram a importância que a racionalidade humana desempenha nas doutrinas da redenção e juízo. Quanto às doutrinas da criação e revelação, Deus mesmo se encarrega de incutir ao homem a tarefa de pensar a organização do mundo criado – nomeando-o – e Ele mesmo se apresenta aos seres decaídos através de palavras, prezando e preservando sua racionalidade.
Aliás, a exposição de toda essa obra está em sintonia com a recomendação de S. Pedro, ao afirmar que ao conhecimento (o que pressupõe racionalidade) devem ser acrescentadas a temperança, a perseverança, a piedade, a fraternidade e principalmente ao amor. Esse caráter deve ser reforçado, pois frequentemente uma suposta racionalidade desenvolvida pode levar seu possuidor ao orgulho contra os que não a possuem (e como tem crente orgulhoso e soberbo achado que Deus só fala com ele, que pobre não?). E assim, essa racionalidade dada a e exigida de nós por Deus para o seu serviço e não o da igreja terrena estaria sendo descaracterizada, uma vez que ela foi dada como um instrumento de serviço para a expansão do Reino para o povo fora da Eclésia.
De acordo com S. Paulo: “E isto peço em oração: que o vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento, para que aproveis as coisas excelentes, a fim de que sejais sinceros, e sem ofensa até o dia de Cristo”.

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